Como são corrigidas as provas do vestibular?
Cada faculdade tem seus critérios. Como não dá para falar de todos os vestibulares, vamos explicar como funciona o maior do país, o da Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest). Ela é responsável pelo vestibular da USP, da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e da Academia de Polícia Militar do Barro Branco, instituições que somadas oferecem quase 10 mil vagas de graduação por ano. A Fuvest tem duas fases. Na primeira, que aconteceu no final de novembro de 2005, os mais de 170 mil candidatos responderam a uma prova de múltipla escolha com cem questões. Como o volume de provas é muito grande, toda a correção nessa fase é computadorizada. Os cartões-resposta dos alunos, com os quadradinhos das alternativas escolhidas preenchidos em preto, passam por um sensor de leitura óptica, que detecta quantas respostas corretas cada candidato marcou. A correção é mais complicada mesmo na segunda fase, que ocorre agora em janeiro. Aí o bicho pega: são provas dissertativas, com dez questões de cada matéria e uma redação. Para fazer uma "prova à prova de fraudes", o custo final dessa megaoperação ultrapassa 11 milhões de reais. Dessa dinheirama toda, a principal despesa é com pessoal. Entre fiscais, coordenadores e porteiros, pelo menos 5 mil indivíduos trabalham no vestibular da Fuvest. Acompanhe ao lado os detalhes da complexa correção de provas da segunda fase desse superexame.
Relação 10 pra 1
Na segunda fase da Fuvest, até dez professores examinam cada prova
1. A prova da segunda fase da Fuvest percorre um longo caminho entre o momento em que o vestibulando a entrega e a saída da nota final. Primeiro, é montado um esquema de transporte, executado por funcionários da própria Fuvest, para recolher os exames dos 106 locais onde rola o vestibular e levá-los para a sede da fundação
2. As provas ficam guardadas no prédio da Fuvest, que, é claro, está cheio de câmeras e catracas e tem acesso restrito. Durante o processo de correção, os professores encarregados de analisar os exames são confinados em um andar com entrada ainda mais exclusiva — os acessos a esse andar são bloqueados por dois portões de metal
3. Os corretores são geralmente professores universitários. Para exercer essa função, é preciso jurar sigilo, não contando a ninguém sobre a atividade. O corretor trabalha oito horas diárias durante 15 dias e ganha cerca de 3 mil reais pelo serviço. Para a segunda fase da Fuvest, são recrutados até 500 professores
4. Como a prova dissertativa tem uma dose de interpretação, cada questão passa por dois corretores. Se não houver acordo, o coordenador da banca dá a nota final. Cada página do caderno de questões (que tem quatro ou cinco páginas) é corrigida por uma dupla de professores. Assim, até dez corretores examinam a mesma prova em uma única disciplina!
5. A correção da redação é ainda mais rigorosa. Em vez de dois, são três corretores diferentes, sendo que um não tem conhecimento da nota do outro. O resultado final é a média das três notas, mas, se houver uma diferença muito grande entre as avaliações, a redação passa por uma quarta análise, feita pelo responsável pela banca de corretores
6. Como dezenas de professores corrigem as provas de uma única matéria, é impossível saber pelas mãos de qual corretor irá passar cada exame, o que impede qualquer tentativa de suborno. No final do processo de correção, diretores da Fuvest ainda sorteiam de 5% a 10% das provas para recorrigir e fazer um controle de qualidade de todo o processo
Fonte : UOL